Crise dos semicondutores: preço de carro vai voltar a subir?

Crise dos semicondutores: preço de carro vai voltar a subir?

É impressionante perceber como algo tão pequeno pode causar um estrago tão grande. Um carro, um computador, um celular e outros aparelhos eletrônicos são constituídos de diversas peças para que possam funcionar, dentre esses elementos estão os semicondutores. 

Você já ouviu falar desse componente precioso dos dispositivos eletrônicos? Sabe que crise é esta que eles estão enfrentando? E porque isso afeta o mercado automotivo? Neste texto vamos falar tudo o que você precisa saber sobre a crise dos semicondutores e de que maneira ela pode impactar sua vida. 

 

A crise dos semicondutores

Antes de falarmos sobre a crise é preciso entender o que são semicondutores. 

Semicondutores são materiais de microchips capazes de conduzir corrente elétrica e atuar como isolantes, sendo uma matéria-prima chave na fabricação de diversos produtos. Computadores, smartphones, televisores, caixas de som e até mesmo carros precisam desses dispositivos para funcionar. 

As estimativas apontam que esse seja o quarto artigo mais comercializado do mundo, perdendo apenas para os automóveis, o  petróleo refinado e o petróleo bruto. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 70% das indústrias eletrônicas do país estão enfrentando problemas pela falta do material. 

Existem alguns motivos por trás da crise dos semicondutores:

  • Questões geopolíticas: em 2020, os Estados Unidos incluíram a maior fabricante de chips da China em uma lista que restringe o acesso às tecnologias desenvolvidas no país, o que impediu a empresa de manter uma boa produção.

  • Paralisação: no início da pandemia, muitas indústrias, inclusive a automobilística, pausaram suas produções e suspenderam encomendas de semicondutores.

  • Redirecionamento de produção: com a paralisação das montadoras de carros e a adoção do home office para trabalho e estudo, a produção dos semicondutores se voltaram para computadores, notebooks, celulares e televisões. 

  • Incêndios: no final de 2020 e no início de 2021, ocorreram incêndios em duas fabricantes dos componentes.

  • Questões climáticas: como a fabricação dos semicondutores exige muita água, um dos principais polos (Taiwan) tentou reduzir a produção por conta de uma forte seca na região. Além disso, a produção nos Estados Unidos também sofreu com as condições climáticas de frio extremo.  

É fundamental destacar o monopólio existente nesta indústria. O silício, matéria prima principal para a fabricação dos microchips, é o segundo elemento mais abundante da Terra. Porém, a produção de 90% dos semicondutores do mundo concentra-se nas mãos de apenas 5 empresas. Ademais, a produção tem maior concentração na Ásia, onde é mais barata.  

Outro ponto importante para compreender a crise é que a produção dos semicondutores foi direcionada nesse período para aparelhos mais tecnológicos. Como os automóveis, assim como os eletrodomésticos, utilizam uma tecnologia mais simples, o setor automotivo foi desprezado em relação aos demais.

Você deve estar se perguntando: não é só voltar a produzir chips mais simples? Seria uma boa solução, não é mesmo? O problema é que o planejamento de uma indústria de semicondutores não é tão simples, requer anos. 

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Como a crise dos semicondutores afetou a indústria automotiva

Como você pode ver, dentre os fatores que levaram à escassez dos semicondutores e seus desdobramentos, o mercado automotivo foi bem abalado. Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que, na primeira metade de 2021, entre 100 e 120 mil automóveis deixaram de ser produzidos no Brasil, por falta desse precioso elemento.

A paralisação do setor de automóveis no início da pandemia, somado às produções voltadas para outras indústrias, foi o que fez os automóveis se envolverem no colapso. 

Os semicondutores operam em várias partes do veículo como segurança, conforto, conectividade e propulsão. Não são usados apenas um ou dois semicondutores, um carro médio possui em torno de 1400 destes componentes. A tendência é que o uso de semicondutores nos veículos só aumentem visto a grande aposta nos carros elétricos. 

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Como a guerra entre Rússia e Ucrânia influencia a crise

Além de todos os fatores pandêmicos que levaram à crise, outro agravante surgiu este ano com os conflitos envolvendo a Rússia e a Ucrânia, que levaram os problemas dos semicondutores a começarem um novo capítulo.

A questão está ligada à fabricação dos microchips que dependem de matérias primas provenientes desses países. Aproximadamente 70% do gás neón é proveniente da Ucrânia, e este gás é utilizado na fabricação de lasers necessários para produzir os microchips. Ainda existe um outro problema em relação ao néon, uma vez que ele é produzido na Rússia e enviado para a Ucrânia para refinamento e distribuição. 

Não é só o gás néon que está sendo uma questão difícil. Além dele, o paládio também gera complicações para a indústria dos microchips, visto que 35% do material usado pelos Estados Unidos, que é utilizado em sensores e memória, provém da Rússia. 

A guerra também influencia diretamente o mercado automotivo, por conta do aumento do valor do petróleo, já que a Rússia é um dos principais produtores do artigo. Outro produto que também teve a produção interrompida foram os chicotes elétricos.

Atualmente, a situação em relação à falta dos materiais para a produção dos semicondutores não é tão grave, pois as empresas possuem estoques desses elementos. Porém, o prolongamento dos conflitos podem sim vir a ser um grande problema. 

 

Panorama do mercado automotivo para os próximos meses

Diante dos aspectos que envolvem a crise dos semicondutores, as perspectivas são de que a situação comece a normalizar no segundo semestre deste ano. 

Em 2021, a produção nacional já revelou um aumento em relação a 2020. Para 2022, a perspectiva é de que esses números continuem a crescer mas, não passarão da casa dos 2 milhões, sendo os dados dos últimos anos, antes da crise, de 4 milhões por ano. Os preços continuarão altos, embora menores que em 2021. 

A perspectiva é que a completa estabilidade só ocorra entre 2023 e 2024, quando haverá maior quantidade de semicondutores no mercado e assim a volta dos números ao normal. 

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